Arrisco a dizer que poucas vezes na história
do futebol brasileiro uma parceria entre um clube de futebol e seu patrocinador
foi tão discutida, investigada, questionada e debatida diariamente nas inúmeras
mesas redondas tão abundantes nos canais esportivos. Dia sim e dia também está
lá a patrocinadora sendo pauta de intensos debates, alguns deles sem qualquer
nível de seriedade, e o mais incrível é que até isso tem um lado positivo, pois
a empresa que assinou um contrato para ter sua marca exposta na camisa do
Palmeiras acaba tendo seu nome divulgado "gratuitamente" e com uma
exposição ainda maior que a planejada.
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Créditos: César Greco / Ag. Palmeiras/ Divulgação |
No entanto, tantas dúvidas, questionamentos e
investigações por órgãos competentes acabaram detectando uma irregularidade nos
moldes do contrato firmado, exclusivamente, para aporte de recursos visando a
aquisição de jogadores. Conforme divulgado amplamente em todos os veículos da
mídia esportiva, quando o Palmeiras solicitava apoio da Crefisa para a
aquisição de jogadores, a empresa fazia o aporte e classificava em seu controle
contábil como uma despesa com marketing o que acabava reduzindo o lucro, e,
portanto, reduzia os impostos sobre os lucros da empresa. Porém, como no
contrato o Palmeiras assegurava a devolução do valor quando da venda
do jogador, a Receita Federal entende que, tal valor, deveria ser classificado
como empréstimo e não como despesa, e com isso a Crefisa estava pagando um
imposto à menor, ou seja, menos do que o valor real devido aos cofres da união.
Diante disso, clube e patrocinador
refizeram o contrato, corrigiram os lançamentos e a patrocinadora arcou com a
multa aplicada pela Receita referente aos anos de 2015 a 2017. O caso já é
visto como página virada, sendo que agora toda essa operação encontra-se
totalmente regular e aprovada. Entretanto, neste novo modelo o Palmeiras fica
mais exposto, pois diferente do primeiro acordo onde o patrocinador assumiria o
prejuízo caso o jogador fosse vendido por um valor menor que o investido, nesse
novo contrato cabe ao Palmeiras devolver todo o valor aportado para aquisição
do jogador e caso a venda seja inferior ao investimento, o clube deverá pagar a
diferença. Com isso, o clube passa a ter em seu balanço um total de empréstimos
da ordem de R$ 120 milhões, com o qual deve lidar nos próximos anos. Cabe
salientar que a dívida somente será cobrada após o encerramento do contrato do
jogador com o Palmeiras, ou quando ocorrer a venda do atleta, momento a partir
do qual o clube terá o prazo de dois anos para quitar o débito.
Créditos: Sportv / Divulgação: Redação Sportv e Sportv.com |
Em minha opinião, apesar da mudança contábil
que implicará em um maior risco ao Palmeiras, vejo essa mudança com um aspecto
bem positivo, pois acredito que tornará a operação mais transparente sobre como
será feita a devolução do valor já que os jogadores são 100% do Palmeiras.
Afinal, esse era o principal questionamento sobre o contrato de patrocínio,
pois todas as vezes em que a Leila Pereira ou o Maurício Galliote eram
questionados acerca dos investimentos feitos em jogadores, a resposta era meio
protocolar, aparentemente, ensaiada: "A Crefisa compra áreas pra exposição
de suas marcas e recebe como retorno o direito de uso da imagem dos
atletas". Vale ressaltar que o modelo adotado, neste momento, é
completamente diferente dos tempos da Parmalat no Palmeiras e Unimed no
Fluminense, já que, atualmente, a FIFA veta a participação de terceiros em
percentual de jogadores, bem como participação no lucro decorrente da venda dos
mesmos.
Considerando ainda que sou mais conservador,
contabilmente falando, e que até então precisávamos aguardar a publicação das
demonstrações financeiras consolidadas além das notas explicativas para
entender melhor a movimentação, acredito que, a partir de agora, vai ficar mais
claro, embora aumente nossa dívida bancária decorrente da reclassificação das
contas. Em resumo, o modelo Palmeiras-Crefisa para contratação de jogadores,
agora, é o mesmo modelo usado pelo Paulo Nobre quando da aquisição do Allione,
Cristaldo, Mouche, Tobio e Mina. Assim, acredito que o clube irá pensar melhor
na hora de buscar ajuda junto ao patrocinador e será mais prudente visando
evitar um aumento nas dívidas do Palmeiras.
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