Por Jota Christianini*
Noite fria, céu escuro, muito escuro, nenhuma estrela, sombrio, como
sombria eram as notícias que chegavam. Eram os homens que entravam, eram as
esperanças que pareciam morrer.
Tomasino berra:
– Por que essa perseguição? Nós somos tão brasileiros quanto eles!
Adalberto lamenta:
– Logo hoje que o Adami não está, nem o Pelegrini, temos que tomar essa
decisão, mas o Leonardo taí e vai assumir a Presidência, a reunião vai começar.
O frio era muito intenso, os homens chegavam, alguns poucos de
automóvel, a maioria de bonde, desciam na Avenida Água Branca, cruzavam os
portões, com a fisionomia preocupada. Era tudo muito difícil, tudo muito
injusto.
Paschoal secretariando a reunião avisa:
– Não tem mais tolerância, podemos ter o nosso estádio confiscado e
perdermos todos os pontos do campeonato. Querem usar o decreto de março que diz
que os bens dos estrangeiros seriam tomados.
Tomasino, fora da sala, escuta e berra :
– E por que ninguém reclamou na Revolução de 32, quando, os atletas do
Palestra, fizeram o batalhão de esportistas e foram lutar pela democracia?
Pediam calma, mas Tomasino insistia:
– Quando transformamos o estádio em hospital, epidemia de gripe, não
apareceu ninguém para dizer que não éramos brasileiros?
O presidente em exercício, Leonardo tenta falar com a autoridade que
exige a mudança de nome ou tomará as medidas drásticas contra o o clube.
Não tem êxito!
Passa o telefone ao Capitão Adalberto que argumenta com a lógica:
Palestra é um nome grego e que desde março já não somos Itália, portanto o
decreto contra nomes estrangeiros não nos atinge.
Não tem êxito também.
Não adianta usar os argumentos do presidente do Conselho Nacional de
Desportos, João Lyra Filho que escreveu que não ha propósito exigir a troca de
nome e que se isso fosse levado a ferro e fogo ele mesmo teria que trocar seu
nome, ja que Lyra é o nome da moeda italiana.
Tomasino reúne os sócios e começam a encher barricas de gasolina e
colocá-las ao redor do estádio:
– Se vierem tomar, nós preferimos tocar fogo do que entregar o que é
nosso, compramos com nosso dinheiro. O Palestra não usou dinheiro do governo
para comprar o estádio.
Prossegue a reunião. Chega um telegrama, vindo do Corinthians,
hipotecando solidariedade ao Palestra. Assina Vicente, um jovem conselheiro,
também imigrante.
O doutor Mario pede a palavra e diz que não nos querem Palestra, mas que
seremos fortes para prosseguir, pois nascemos para vencer e nada nos destruirá,
ainda mais que sabemos muito bem quem está por trás de tudo isso, atrás do
nosso estádio e atrás do nosso campeonato.
Vincenzo, fundador do Palestra, dramaturgo, jornalista, astrônomo e ator
usa um pouco de cada uma das ocupações para ordenar o recinto.
Não adianta o sangue palestrino ferve.
Três conselheiros saem apressados e cortando a noite pelas ruas escuras
vão a casa do Sr. Olival.
Todos esperam, Tomasino e seus amigos, nervosos, circulam pelo estádio
de olho nos portões.
Hora depois o carro volta, olhares tristes dos amigos do Tomasino
confrontam com os ocupantes do carro, parecem esperançosos.
Olival não só autorizou como fez questão de vir junto, avisa Adalberto.
Reiniciam a reunião. Dr. Mario, completa a frase
– “NÃO NOS QUEREM PALESTRA, POIS SEREMOS PALMEIRAS E NASCEMOS PARA SER
CAMPEÕES”.
Enrico diz que o Palestra continua no Palmeiras e Oberdan vai jogar para
sempre de azul para lembrar a Itália.
Os gritos de alegria e os abraços contagiam.
O Palestra muda para Palmeiras para continuar sendo Palestra.
Lá fora Tomasino avisa
– Domingo, dia 20 de setembro, vamos dar de relho neles, para mostrar
que agora aqui é Palmeiras!
Todos saem abraçados, mais uma etapa estava vencida, a madrugada antes
fria parece bem mais agradável, vão todos para a cantina 1060 no Brás. Dizem
que faltou vinho naquela noite.
Vincenzo o astrônomo olha para o céu, agora bem mais claro. Olhos fixos:
– Nasceu uma nova estrela, e de primeira grandeza!
***
***
NOMINATA
Adami – Italo Adami presidente licenciado do Palestra em 42;
Pelegrini – Hygino Pelegrini, presidente em exercício que não pode
presidir a reunião;
Leonardo – Leonardo Lotufo, presidente interino na célebre reunião de
42;
Adalberto – Capitão Adalberto Mendes, capitão do exército que entraria
na frente do time no domingo seguinte, dia 20, quando ganhamos do SPFC por 3×1
e na iminência da marcação do quarto gol, eles fugiram do campo;
Paschoal – Paschoal Walter Byron Giuliano, secretariou a reunião; depois
tornou-se um dos maiores presidentes do Palmeiras;
Enrico – Enrico Di Martino, disse: “O Palestra continua no Palmeiras”;
foi presidente do clube, um dos melhores;
Vicente – Vicente Matheus, conselheiro corintiano que solidarizou-se com
o Palestra;
Doutor Mario – Mario Minervino, advogado, autor da frase, “Não nos
querem Palestra, seremos Palmeiras e nascemos para ser campeões”;
Olival – Olival Costa, presidente da A.A. Palmeiras, sempre grande amigo
do Palestra, foi chamado à reunião para autorizar o uso do nome Palmeiras;
Vincenzo – Vincenzo Ragognetti, fundador do Palestra e primeiro diretor
de futebol;
Tomasino – TODOS NÓS!
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